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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

As Teses do Bispo John Shelby Spong


1. O Teísmo, como uma forma de definir Deus, está morto. Desta forma, a maior parte da linguagem teológica a respeito de Deus não faz sentido hoje. Uma nova forma de falar a respeito de Deus deve ser encontrada.


2. Já que Deus não pode ser mais concebido em termos teísticos, não faz sentido tentar entender Jesus como a encarnação de uma deidade teística. Sendo assim, a Cristologia dos séculos está falida.


3. A narrativa bíblica da criação perfeita e acabada da qual os seres humanos caíram no pecado é mitologia pré-Darwiniana, e absurdo pós-Darwiniano.


4. O nascimento virginal, entendido como biologia literal, torna a divindade de Cristo, como tradicionalmente compreendida, impossível.


5. As narrativas de milagres do Novo Testamento não podem mais ser interpretadas num mundo pós-Newtoniano como eventos sobrenaturais realizados por uma divindade encarnada.


6. A visão da cruz como um sacrifício pelos pecados do mundo é uma idéia barbárica baseadas em conceitos primitivos de Deus, e devem ser abandonadas.


7. A Ressurreição é uma ação de Deus. Jesus foi ressuscitado no significado de Deus. Não pode, desta forma, ser uma ressurreição física ocorrida na história humana.


8. A narrativa da Ascensão supõe um universo de três dimensões, e não é desta forma, capaz de ser traduzida nos conceitos pós-copérnicos da era especial.


9. Não há nenhum padrão externo, objetivo, revelado em escritura ou tábuas que governarão nosso comportamento ético por todos os tempos.


10. Oração não pode ser um pedido feito a uma divindade teística para agir na história humana de uma maneira específica.


11. A esperança de vida após a morte deve ser separada para sempre da mentalidade de controle de comportamento de recompensa e punição. A igreja deve abandonar, então, sua dependência na culpa como um motivador de comportamento.


12. Todos os seres humanos representam a imagem de Deus e devem ser respeitados pelo que são. Desta maneira, nenhuma descrição externa de um ser, seja baseado na raça, etnia, gênero ou orientação sexual, pode apropriadamente ser usada como base para rejeição ou discriminação.




John Shelby Spong, nascido em 16 de junho de 1931 em Charlotte, Carolina do Norte, Estados Unidos, é bispo aposentado da Diocese Episcopal de Newark (Newark, Nova Jersey). Ele é um teólogo liberal, biblicista, escritor e comentador religioso. Ele promove causas tradicionalmente liberais, como a igualdade racial e os direitos de mulheres e gays e lésbicas. Ele também clama por uma reavaliação da fé cristã, longe do teísmo e da crença na vida após a morte como recompensa ou punição pelo comportamento humano.

4 comentários:

  1. Gibson, o que o Bispo Jonh quer dizer no item 7, quando ele fala em ser ressucitado no significado de Deus???
    Qual sua visão da ressureição de Crsito????

    Lí as respostas das outras perguntas,e gostei muito mesmo, me fez ver Deus de uma forma diferente, muito mais próximo de mim, do mundo e das pessoas. Valeu mesmo!

    Um grande abraço, a Paz de Cristo a você e a todos os seus!

    Fernando-SP.

    fer.

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  2. Como estás, Fernando?

    Quando o Bispo Spong disse: “A Ressurreição é uma ação de Deus. Jesus foi ressuscitado no significado de Deus. Não pode, desta forma, ser uma ressurreição física ocorrida na história humana.” - Ele quis dizer exatamente o que disse. A ressurreição não pode ser entendida literalmente como a cristandade a tem compreendido durante sua história. A ressurreição é uma ação de transformação operada por “Deus” (uma transformação operada por “Deus” na percepção que os seguidores de Jesus tinham a seu respeito - “Deus” aqui significando a percepção que as pessoas tinham de Deus), logo, ser ressurreto é alcançar uma espécie de unidade metafórica com Deus. Algo muito maior que alguém simplesmente voltar a viver fisicamente depois de morto.

    Eu, particularmente não acredito numa ressurreição literal de Jesus – da mesma forma como não acredito que o objetivo da vida de Jesus tenha sido “morrer pelos meus pecados” (as duas coisas estão relacionadas na teologia cristã). Já sei o que a maioria dos cristãos diriam a respeito disso. Também sei o que algumas passagens do Novo Testamento diria a respeito disso. Já conheço muito bem o argumento de que não haveria razão para a existência do cristianismo sem que esse fato tenha ocorrido. Entretanto não considero a ressurreição de Jesus da mesma forma como a tradição da igreja a tem compreendido. Eu considero a ressurreição religiosamente insignificante (apesar de historicamente provável – eu teria de explicar isso depois). Sei que afirmar a insignificância religiosa da ressurreição contradiz o consenso que há entre cristãos e não-cristãos a respeito do assunto, mas esse consenso (o de que o cristianismo não permaneceria sem essa ressurreição física de Jesus) está errado.

    Com isso não quero dizer que não tenha havido uma “ressurreição”. Eu acredito que sim. Alguma coisa aconteceu para que houvesse tudo o que houve com os seguidores de Jesus. O que não acredito (nem poderia) é que essa “ressurreição” signifique que Jesus tenha fisicamente se elevado dentro os mortos e ido para um “céu” onde Deus habita. Em primeiro lugar, eu não vejo Deus como uma pessoa ou mesmo como um ser que “habite” num “céu”. Deus para mim é a própria existência. Hoje temos uma concepção do universo que não nos permite ver o “céu” da tradição cristã como uma existência física em algum lugar deste universo – ao menos não conseguem as pessoas com o mínimo de bom senso, aquelas que não queiram se opor a tudo aquilo que temos descoberto a respeito do universo nos últimos séculos. Para onde Jesus teria ido, então? E como ele teria chegado lá, já que não há nenhum “céu” (habitação de Deus) próximo do planeta Terra, e já que (de acordo com a tradição) Jesus ressuscitou com um corpo físico?

    Nos evangelhos e no resto do Novo Testamento, morte e ressurreição servem como uma contínua metáfora da transformação pessoal, do processo psicológico-espiritual da vida cristã.

    Nos evangelhos sinóticos, a senda da morte e ressurreição é “o caminho” que o próprio Jesus ensinou. De acordo com Marcos, o mais antigo dos evangelhos sinóticos, Jesus disse: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Marcos 8:34). De acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas, Jesus diz: “Quem não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27 = Mateus 10:38: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”).

    Essa linguagem iguala seguir Jesus – ser seu discípulo – a “tomar sua cruz”. No primeiro século, a cruz era um símbolo de execução, de morte. Ainda não tinha se tornado uma metáfora ampla para qualquer tipo de sofrimento ou inconveniência que surgisse no caminho de alguém. Cruz significava morte. Seguir Jesus significava seguí-lo no caminho de morte. E para garantir que entendemos isso metaforicamente, Lucas adiciona o termo “cada dia” à frase “tomar sua cruz” (em Lucas 9:23 - “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga” - o autor de Lucas está aqui copiando Marcos 8:34, então a adição de “cada dia” aqui é deliberada).

    Os evangelhos sinóticos não apenas relatam que Jesus tenha falado da morte como caminho para uma nova vida; sua estrutura literária como um todo também é moldada pelo tema da morte e ressurreição como “o caminho” de Jesus. Vemos esta estrutura no evangelho de Marcos, um modelo seguido por Mateus e Lucas.

    Como nos evangelhos sinóticos, o evangelho de João também é moldado por esse tema de morte e ressurreição como o caminho para uma nova vida. “Se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho; mas se morre, produz muito fruto” - João 12:24 (logo depois há a linguagem do se apegar à vida e perdê-la, do desprezá-la e ganhá-la).

    Esse é um tema chave para se entender o verso muito conhecido de João, freqüentemente usado como base do exclusivismo cristão: “eu sou o caminho, a verdade, e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (João 14:6). Para colocar este versículo no contexto da teologia da encarnação de João: assim como Jesus é o “Verbo feito carne”, ele também é o “caminho” feito carne, a senda personificada em uma vida. A questão principal, então, se torna: O que é “o caminho” que Jesus encarna? O que é “o caminho” que Jesus é? Para João, assim como para o Novo Testamento de forma geral, “o caminho” encarnado em Jesus é o caminho da morte e da ressurreição. Morrer e se reerguer é o único caminho para Deus.

    O exclusivismo cristão entende esse versículo como se dissesse que você devesse saber sobre Jesus e crer em certas coisas a respeito de Jesus para ser salvo. Mas “o caminho” do qual João fala não é crer em doutrinas a respeito de Jesus. Em vez disso, “o caminho” é o que vemos encarnado em Jesus: o caminho da morte e ressurreição como sendo o caminho de renascimento em Deus. De acordo com João, este é o único caminho (assim como é “o caminho” do qual se fala nas principais religiões do mundo). Morrer e ressuscitar é o caminho. Assim, Jesus é “o Caminho” - o caminho tornado carne. Em vez de ser a única revelação de um caminho conhecido apenas nele, sua vida e morte são a encarnação de um caminho universal conhecido em todas as tradições religiosas do mundo.

    Também há outras considerações teológicas a se fazer para entender a razão pela qual a maioria dos cristãos entendem a “ressurreição” como um fato literal na história humana, mas essas considerações tomariam um grande espaço aqui, posso falar sobre elas depois. Essa é apenas uma nota breve sobre minha crença pessoal a respeito do tema. Creio que a ressurreição seja religiosamente insignificante, minha fé em Jesus e sua importância não permanece ou cai como conseqüência de sua ressurreição ser entendida literalmente ou não.

    Paz!

    +Gibson

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  3. satanas existe?o bispo john shelby acredita em satanas?um abraço e um abraço a todos!

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  4. Ricardo,

    O Bispo Spong, como todos os adeptos da tradição liberal, acredita na existência do mal - que é bem real e aflige e nosso mundo, por meio de nossas próprias ações na maioria das vezes -, entretanto, ele obviamente sabe que a figura do "satanás" do cristianismo não passa de mitologia antiga (é isso que ele acredita, assim como eu e todos os ditos teólogos liberais).

    Dizer que o dito "satanás" seja uma figura mitológica não é negar a existência do mal em nosso meio. É apenas negar que esse "mal" seja um ser, uma pessoa. É reconhecer que os únicos responsáveis pelo mal no mundo somos nós mesmos e não uma força externa.

    Um grande abraço,

    +Gibson

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